Antes da roda! Como rastros de 22 mil anos revelam a engenhosidade dos primeiros americanos
Descoberta em White Sands, Novo México, mostra que humanos pré-históricos usavam travois, estruturas semelhantes a trenós, para transportar cargas pesadas há mais de 22 mil anos
Introdução
Imagine caminhar por um deserto e encontrar marcas no solo que contam uma história de 22 mil anos atrás.
Foi exatamente isso que arqueólogos descobriram no Parque Nacional de White Sands, no Novo México: rastros que indicam o uso de travois, estruturas semelhantes a trenós, por humanos pré-históricos para transportar cargas pesadas.
Essa descoberta não apenas desafia o que sabíamos sobre a tecnologia antiga, mas também nos conecta de maneira surpreendente aos nossos ancestrais.
Por que isso importa?
A presença humana nas Américas durante o Pleistoceno já era conhecida, mas evidências de tecnologias de transporte desse período são extremamente raras.
O travois, uma estrutura simples feita de dois troncos amarrados em forma de “A”, era utilizado por povos indígenas para transportar cargas antes da introdução de animais de tração.
A descoberta de marcas de travois datadas de aproximadamente 22 mil anos atrás sugere que essa tecnologia foi desenvolvida muito antes do que se pensava, indicando um nível de engenhosidade e adaptação surpreendente para a época.
O que o estudo revela?
Pesquisadores identificaram três tipos distintos de marcas lineares no solo de White Sands, algumas com mais de 50 metros de comprimento, associadas a pegadas humanas.
Essas marcas foram classificadas como:
- Tipo I: Sulcos profundos e estreitos, às vezes bifurcados
- Tipo II: Sulcos largos e rasos, mais retilíneos
- Tipo III: Duas linhas paralelas com espaçamento fixo, frequentemente acompanhadas de pegadas humanas
Após descartar outras possíveis origens, como animais ou objetos naturais, os pesquisadores concluíram que as marcas foram feitas por travois sendo puxados por humanos.
Experimentos com réplicas de travois confirmaram que as marcas correspondem às encontradas no local.
Como foi feito o estudo?
A equipe utilizou uma combinação de técnicas:
- Análise Estratigráfica: estudo das camadas de sedimento
- Datação por Radiocarbono: em sementes encontradas nas pegadas
- Experimentos de Replicação: testes com travois modernos para comparar marcas
Essas abordagens permitiram confirmar que as marcas datam de aproximadamente 22 mil anos atrás e foram feitas por humanos.
Impactos e reflexões
Esta descoberta tem implicações profundas:
- Revisão da História Tecnológica: Mostra que tecnologias complexas surgiram antes do que imaginávamos.
- Compreensão da Mobilidade Humana: Sugere uma logística de transporte sofisticada, essencial para sobrevivência.
- Integração de Saberes: A participação de mais de 20 grupos indígenas reforça o valor de aliar tradição e ciência na reconstrução do passado.
Conclusão
A descoberta das marcas de travois em White Sands não é apenas uma evidência arqueológica; é um testemunho da engenhosidade e adaptabilidade humanas.
Ela nos convida a reconsiderar o que sabemos sobre nossos ancestrais e a valorizar tecnologias simples, porém eficazes, que moldaram nossa história.
Ao integrar ciência e tradição, ampliamos nossa compreensão do passado, e de nós mesmos.
Referência usada neste post:
BENNETT, M. R. et al. The ichnology of White Sands (New Mexico): Linear traces and human footprints, evidence of transport technology? Quaternary Science Advances, v. 17, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.qsa.2025.100274. Acesso em: 4 jun. 2025.