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Quando as plantas enganam: a surpreendente estratégia de comunicação desonesta no subsolo

Estudo revela que plantas podem enviar sinais falsos por redes fúngicas para prejudicar vizinhas, e que os fungos talvez sejam os verdadeiros “vigilantes” do sistema.

Vídeo explicativo sobre o tema

Imagine que, sob seus pés, as plantas estejam envolvidas em uma complexa rede de comunicação subterrânea, trocando informações vitais para sua sobrevivência.

Agora, imagine que algumas delas estejam mentindo.

Parece ficção científica? Pois um estudo recente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) sugere exatamente isso: plantas podem enganar suas vizinhas através de sinais falsos transmitidos por fungos micorrízicos.


A “internet” subterrânea das plantas

As plantas não vivem isoladas. Muitas se conectam a uma vasta rede de fungos no subsolo, conhecidos como fungos micorrízicos, que formam conexões simbióticas com as raízes. Essa rede, chamada informalmente de “wood wide web”, permite a troca de nutrientes e informações entre diferentes plantas, funcionando como uma verdadeira internet viva.

Por meio dela, uma planta atacada por herbívoros pode avisar outras sobre o perigo, fazendo com que elas ativem mecanismos de defesa antecipadamente.


Mas e se essas mensagens forem mentira?

O estudo liderado por Thomas Scott e Toby Kiers mostra que, em ambientes onde as plantas competem intensamente por recursos como luz e nutrientes, pode ser vantajoso para uma planta emitir sinais falsos de ataque. O objetivo? Levar suas vizinhas a entrarem em “modo de alerta” e gastarem energia em defesas desnecessárias.

Isso enfraquece as plantas vizinhas e dá uma vantagem competitiva à planta que mentiu. Em outras palavras, ela engana para vencer.


Como os cientistas chegaram a essa conclusão?

Usando modelos matemáticos e simulações computacionais, os pesquisadores testaram diferentes cenários de comunicação entre plantas. Eles consideraram fatores como o custo de sinalizar, o benefício das respostas defensivas e o grau de competição entre as plantas.

Os resultados revelaram que a comunicação honesta nem sempre é a melhor estratégia. Em muitos casos, enganar pode ser mais vantajoso, e esse comportamento pode, portanto, ser favorecido ao longo da evolução.


Sinais falsos ou involuntários? E o papel dos fungos?

Os autores também levantam duas alternativas para explicar como as plantas vizinhas percebem os sinais:

  1. Sinais involuntários: A planta atacada pode liberar compostos químicos ou impulsos elétricos que não consegue controlar, como um grito involuntário. As vizinhas detectam esse “grito” e respondem por precaução.
  2. Monitoramento fúngico: Em vez de apenas repassar os sinais das plantas, os fungos poderiam ser os verdadeiros vigilantes do sistema. Como eles dependem das plantas para obter carbono, é do interesse deles manter o “ecossistema cliente” saudável. Por isso, eles poderiam monitorar os ataques e repassar a informação por conta própria.

O que isso muda na forma como vemos as plantas?

Essa pesquisa quebra a ideia de que a comunicação entre plantas é sempre harmoniosa e cooperativa. Revela que há competição, manipulação e até engano — comportamentos que costumamos associar apenas ao mundo animal.

E ainda joga luz sobre o papel central dos fungos na dinâmica dos ecossistemas. Eles não são meros condutores passivos: podem estar ativamente envolvidos na regulação das interações entre plantas.


Conclusão

Mesmo sem cérebro, sem olhos e sem palavras, as plantas estão muito mais envolvidas em estratégias sofisticadas de sobrevivência do que imaginávamos. E no centro de tudo isso estão os fungos micorrízicos, silenciosos, invisíveis e, talvez, mais inteligentes do que pensamos.


Referência científica

Scott, T. W., Kiers, E. T., & West, S. A. (2025). The evolution of signalling and monitoring in plant–fungal networks. Proceedings of the National Academy of Sciences, 122(4), e2420701122. https://doi.org/10.1073/pnas.2420701122

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